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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Agilulfo e o Budismo

Conheci Agilulfo de Corvalha no lançamento de um livro de F., um amigo em comum. O F. é um tipo bem carioca, pois ser amigo ao mesmo tempo de Agilulfo e de mim requer um jogo de cintura político, de estar bem com todo mundo, que só uma ex-corte imperial pode gerar.

Bem, Agilulfo é já um viúvo, muito sisudo e compenetrado. É um tipo conservador, católico e temente a Deus, apesar de reclamar muito com Ele sobre a corrupção na política e nos costumes. E o fato de morar em Copacabana dá munição diária e permanente para suas solenes vituperações sobre o fim iminente de toda moral cristã. Mas ele é inteligente e interessado em livros, e gosta de um bom debate intelectual. Isto que nos uniu.

Depois daquele lançamento praticamente nunca mais nos encontramos; vimos de imediato que nossas visões de mundo diferiam irredutivelmente. Mas naquela noite percebemos que nos respeitávamos como adversários, e iniciamos uma correspondência por e-mail, apesar da sua ojeriza a novas tecnologias. Postei uma de suas indignações mais virulentas neste blog, em “Campanha Cidadã”.

No entanto, temos alguns gostos pessoais em comum, como Jorge Luis Borges, por exemplo. Esta semana ele me mandou um e-mail especialmente colérico. Percebe-se no texto a sua angústia de admirar literariamente um ateu, e ele me explicou que estava lendo um livro de Borges sobre Budismo no qual ele não perdoava duas passagens em especial:

“Deus não pode ter feito o mundo por interesse, porque não necessita nada; nem por bondade, pois no mundo há sofrimento. Logo, Deus não existe”.


“Se Deus quer suprimir o mal e não pode fazê-lo, é impotente; se pode e não quer, é malvado; se não quer nem pode, é ao mesmo tempo malvado e impotente. Se quer e pode, como explicar a presença do mal neste mundo?”

Fui correndo comprar o livro e estou, ao contrário de Agilulfo, me encantando com o texto. Descobri por exemplo, que a primeira passagem é um texto do Sankhya, uma escola filósofica ateísta influenciadora do Budismo. E descobri também que a Índia, apesar de tantas religiões e tantos deuses, têm uma larga tradição neste tipo de filosofia sem Deus.

O Agilulfo vai ter de aguentar ainda mais essa....

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Por isso que eu sempre gostei das mulheres

Ainda nesta linha de combate ao excesso de razão, ofereço um texto do meu filósofo de cabeceira, pela voz de uma personagem da peça "Uma Mulher sem Importância":

"MRS. ALLONBY: Man, poor, awkward, reliable, necessary man belongs to a sex that has been rational for millions and millions of years. He can't help himself. It is in his race. The History of Woman is very different. We have always been picturesque protests against the mere existence of common sense. We saw its dangers first."

O.W.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A Força da Água


Na manhã chuvosa de hoje acordei cedo para explorar sozinho a floresta e visitar as cachoeiras que me neguei tanto tempo em conhecer, por enfado com a vida e comigo mesmo.

Lá, na solidão absoluta do contato com as árvores, pedras e águas, tive uma epifania. Me senti integrado ao mundo, o reconheci meu mundo pois me intuí seu elemento e partícipe. 

Deitado desnudo e envolvido pela água doce e fria, me deslumbrei com as gotas de chuva que caíam lentas sobre mim. Ri. Gargalhei. Feliz como uma criança diante da revelação de se descobrir vivo e forte e pleno e poderoso.

(O que direi soará um pouco místico, quiçá religioso; e sem dúvida surpreendente vindo de um ateu empedernido como eu)

Percebi que vivencei, sem intenção, um ritual de crescimento da minha vitalidade e potência. Através da comunhão solitária com a natureza e do sentimento de integração com o TODO. 

Saí mais convicto de mim mesmo. 

Para mais fotos.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Manual de Criatividade para Mentes Obtusas

Quando eu trabalhava numa grande empresa de capital finlandês chamada Lumière, eu tive um chefe com o qual eu tinha algumas diferenças de ordem, para dizer o mínimo, filosófica. Ele era o tipo que não se satisfazia em ser superior hierárquico, e se incomodava em não ser superior no resto. Obviamente que era tarefa impossível ser melhor e maior em todas as características humanas e profissionais de uma equipe heterogênea de 10 pessoas. E isto o consumia profundamente, como ocorre com tudo o que é desejado mas inatingível.

Comigo era a criatividade, pois em uma avaliação que considerei séria, eu o pontuei altíssimo em controle e baixo em criatividade. Ele ficou furioso, e argumentei com toda a lógica que era impossível uma pessoa ser extremamente controladora e altamente criativa ao mesmo tempo.

Acabei tendo de, por meses, ouví-lo com ares soberbos o quanto ele era criativo e eu não, com os exemplos mais estapafúrdios de sua pretensa inventividade. Como não poderia diretamente contestá-lo nisso também, já que eu o fazia em quase todo o resto, em uma noite de (muita) impaciência escrevi um pequeno manual de criatividade para lhe entregar.

Evidente que não o fiz; mas achei-o outro dia nos meus escritos antigos, e percebi que não havia perdido nem atualidade nem utilidade. Segue-o para usufruto dos meus quatro leitores.

Manual de Criatividade para Mentes Obtusas (2)

Sugestões de Leitura

Como criatividade é conceituada de diversas maneiras, nesta tarefa eu utilizarei a que eu considero mais interessante e rica de possibilidades, cuja definição é mais ou menos assim:

“Criatividade é a capacidade de se utilizar conceitos de um campo do conhecimento em outro campo do conhecimento, ou seja, a capacidade de se criar metáforas”.

(Por exemplo, Frederick Taylor foi criativo no momento em que comparou as organizações industriais modernas com uma máquina e criou a Administração Científica baseada nesta metáfora).

Além disso, hoje as empresas buscam profissionais generalistas. Tanto é assim que um administrador deve ter conhecimentos de psicologia, sociologia, estatística, matemática financeira, etc, para se desenvolver e ser um bom profissional.

Finalmente, acredito, junto com o filósofo francês Merleau-Ponty, que a língua é a base do pensamento humano. Sendo assim, o domínio dos conceitos de uma língua nos permite pensar com clareza e ajudar no nosso trabalho cotidiano que é fundamentalmente a resolução de problemas de ordem abstrata e simbólica.

Por estas três razões, metáforas, generalismo e domínio da linguagem, eu proponho os seguintes títulos abaixo como uma base de estímulo à criatividade.

Além deles, o curso “Processo Criativo” da Escola de Artes Visuais do Parque Lage oferece uma oportunidade privilegiada de conhecer os impedimentos à criatividade e aprender as estratégias de como estimulá-la.

Leituras básicas

Criatividade no Trabalho e na Vida - Roberto Menna Barreto

Coletânea das aulas do curso de “Criatividade” ministradas na Escola de Comunicação da UFRJ. Texto didático e obrigatório para entender e implementar criatividade.

O Que é Realidade - João Francisco Duarte Júnior

A realidade é relativa e reconhecer isto é talvez o primeiro passo para uma abordagem criativa. A realidade depende do ponto de vista do observador e por sua vez este ponto de vista é construído socialmente, baseado na nossa educação e valores. Este livreto de linguagem acessível apresenta estas e outras questões, e é praticamente um resumo do livro “Construção Social da Realidade” de Berger e Luckmann, leitura bem mais complexa mas fundamental para profissionais e estudantes de filosofia e ciências humanas.

Aprender Antropologia - François Laplantine

O óbvio não é tão óbvio quanto pensamos. Aquela curiosidade natural das crianças e que perdemos quando adultos (“porque o céu é azul?” porque as folhas são verdes?”) é a base para uma mente criativa. O mais interessante é que existe toda uma ciência construída sobre a curiosidade de entender as razões para o “óbvio”. Esta ciência é a Antropologia. Este livro mostra os principais conceitos desta ciência criada no esforço de compreender as culturas não-européias e dá exemplos das suas aplicações em nossas próprias culturas.

Imagens da Organização - Gareth Morgan

Este livro ajuda no entendimento das organizações modernas e de como elas são pensadas. Adicionalmente, ilustra conceituação de criatividade acima definida. Nele o autor analisa a história da “ciência administrativa” e mostra que todas as escolas de pensamento se basearam em metáforas da engenharia, biologia, comunicação, etc., para responder à questão de como as organizações funcionam.

Leituras adicionais

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

Este livro de memórias fictício, que começa com a morte do protagonista e termina com seu nascimento, faz uma descrição bem humorada e cheia de estilo da vida de um quase dândi carioca do final do século XIX. Vale pelo estilo machadiano e pela fina ironia na apresentação das grandes questões humanas: nascimento, morte, sexo, poder e dinheiro.

Grande Sertão: Veredas - Guimarães Rosa

Além do olhar arguto e inteligente (dizem que “seu” Rosa falava 17 línguas) sobre as relações humanas, é uma obra que realiza uma magistral recriação da língua portuguesa, onde ele funde elementos gramaticais e vocabulares de outras línguas com o português culto e arcaico e o falado do norte de Minas. Um clássico genuinamente brasileiro na temática e na linguagem.

Poesias Completas de Álvaro de Campos - Fernando Pessoa

Talvez o mais criativo dos poetas de língua portuguesa, Fernando Pessoa foi alfabetizado em inglês na África do Sul e compunha poemas em português, inglês e francês. Seu talento era tão vasto que criou “heterónimos”, que na verdade são pseudônimos com histórias pessoais próprias e estilos de escrita particulares. Álvaro de Campos, por exemplo, é um engenheiro naval angustiado que busca nas viagens (reais e filosóficas) e na sua insônia crônica um sentido para a vida. Um existencialista avant la lettre.

Jogo de Amarelinha - Júlio Cortázar

Neste livro o escritor argentino nascido na Bélgica e auto-exilado em Paris faz uma bem sucedida experimentação com a linguagem, onde diálogos se intercalam com pensamentos e onde a sequência de capítulos pode ser lida de acordo com a preferência de cada leitor (daí o título). Outro autor com temática existencialista e dentro da tradição do realismo fantástico, e que aprofunda como poucos as contradições e absurdos da existência humana.


Ficções - Jorge Luis Borges

Esta coletânea de contos escrito na década de 40 mostra a injustiça da não premiação de Borges com o Prêmio Nobel de Literatura. Como “inventor” do realismo fantástico latino-americano, Borges constrói estórias com personagens históricos (reais ou imaginários) passadas em lugares como a Babilônia, o deserto árabe ou o império asteca. Daí recria um universo livresco todo particular baseado na sua cultura enciclopédica e seu gosto pela filosofia de Schopenhauer.

Picasso - Edições Taschen

Uma excelente descrição da vida e obra deste gênio magistral cuja vida não foi menos fascinante que sua obra. Nele temos a oportunidade de entender o processo único de interpretação e transformação da realidade visual que ele empreendeu e que revolucionou para sempre a arte ocidental.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Casas de Botafogo (E algo do Humaitá)




Como vários bairros do Rio, Botafogo é frequentemente citado em Machado de Assis. Era onde a burguesia tinha suas casas de veraneio e que ainda hoje se caracteriza pelos sobrados e casas de dois andares do final do século XIX e início do século XX. O bairro não sofreu por exemplo a especulação imobiliária que de certa forma desumanizou Copacabana ou que descaracterizou Ipanema. Suas casas abrigam muitos bares, consultórios e profissionais liberais, o que ajudam a preservar este bairro tranquilo (pelo menos nos finais de semana...).

Para mais fotos, clique aqui.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

El Arte como Forma de Conocimiento

Lo que podemos conocer de la realidad mediante los esquemas de razón se parece a lo que podríamos saber de París examinando su plano y su guía de teléfonos, o a lo que un sordo de nacimiento imaginar de una sinfonía observando la partitura.

Las regiones más validas de la realidad - la más valiosa para el hombre y su existencia - no son aprehendidas por esos esquemas de la lógica y la ciencia. Querer aprehender el mundo de los sentimientos, de las emociones, de lo vivo, mediante esos esquemas es como querer sacar agua con horquillas.

De las tres facultades del hombre, la ciencia sólo se vale de la inteligencia y con ella ni siquiera podemos cerciorarnos de que existe el mundo exterior. ¿Qué podemos esperar de problemas infinitamente más sutiles? La realidad no está solo constituida por silicatos o planetas, aunque buena parte de los hombres de ciencia parezcan creerlo. Un amor, un paisaje, una emoción, también pertenecen a la realidad, ¿ pero mediante qué conjunto de logaritmos y silogismos pueden ser aprehendidos?

El arte y la literatura, pues, deben ser puestos al lado de la ciencia como otras formas del conocimiento. Entre ambos órdenes de conocimiento pueden estabelecerse las siguientes antítesis:

CIENCIA - ARTE

demostración - mostración
por qué - cómo
explicación - descripción
abstracción - concreción
concepto - intuición
universalidad - individualidad

Es natural, por lo tanto, que la nueva filosofia se haya acercado a la literatura: ésta ha sido siempre existencialista.


Ernesto Sábato

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Campanha Cidadã

“VAMOS PROIBIR DE VEZ”

Está na hora de sermos firmes. Não dá mais para aguentar tanta falta de respeito, tanto desatino. Temos de tomar providências duras para que a saúde de nossa sociedade não seja comprometida e que nosso dinheiro seja consumido de maneira irresponsável ajudando pessoas que não querem ajuda. Este mal do século, esta verdadeira chaga social, que extrapolou o problema de saúde pública e já se mostrou um PROBLEMA MORAL.

Explico-me: Estou me referindo ao tabaco. É verdade, minha senhora e meu senhor, os fumantes são uma chaga social e um problema moral. Nem quero me referir ao problema de saúde, ao que já foi gasto em pesquisas médicas demostrando cabalmente, com a força da ciência, que o cigarro provoca câncer de pulmão, de esôfago, de laringe, que provoca infarto do miocárdio, que atrapalha a circulação, que dificulta a cicatrização, que lhes dá mau hálito, que estraga seus dentes, que os deixa impotentes (graças a Deus, na sua infinita sabedoria). Nem vou detalhar os bilhões de dólares, reais, euros e outras moedas menos conhecidas que são gastos todos os anos tratando estes pobres diabos que depois de toda uma vida de dissolução vêm reclamar de nós, pessoas saudáveis e sensatas, que os ajudem a tratar de sua doença maligna. Mas não é para ter pena, não. Ao contrário que Nosso Senhor disse, eles sabem o que fazem, pois desde há muito se sabe que o cigarro mata e aleija. E eles são egoístas e mesquinhos, pois sabem que fazem mal aos outros com sua fumaça putrefata, e que fumando na frente delas ensinam o caminho do vício às nossas crianças frágeis e impressionáveis.

E a propaganda também não funciona. Quanto dinheiro despendido tentando convencer incréus que não é bom fumar. E funcionou? Não. E sabemos o quão poderosa é a publicidade, com sua capacidade de nos convencer de praticamente tudo. Mas com os fumantes nem esta formidável arma de sedução funciona. Porque eles não querem melhorar, eles não querem parar. Por isso, devemos acabar com esta gastança de dinheiro com pesquisas médicas que já provaram o que tinham que provar; devemos parar de tentar convencer quem não quer se convencer.
Adianta mostrar que fumar prejudica a saúde deles? Não. Adianta mostrar que faz mal às pessoas ao redor? Não. Adianta mostrar que são um péssimo exemplo para nossa juventude e nossa infância? Não. Adianta humilhá-los, constrangê-los, tratá-los como cidadãos de segunda classe? Não. Adianta o nosso olhar de desprezo? Não, não e não!!!!

E sabe o porquê, dama e cavalheiro? Por que eles não se importam com a própria saúde, eles não se importam com os outros, eles não se importam nem com a própria honra e e a própria dignidade. Por isso eles são fracos de caráter, são moralmente degradados, decadentes e totalmente desinteressados nas consequências de seus atos doentios.

Sendo eles então um PROBLEMA MORAL, pois fracos de vontade, resta-nos aos saudáveis e moralmente superiores impor a solução final, nossa Endlösung do século XXI. Destarte devemos nós, os fortes de caráter e de coração, sermos firmes e decretar o que eles tem de fazer, pois omissos que são, não querem nem podem decidir o que é melhor para eles e para a sociedade.
Devemos simplesmente proibir o cigarro, tornar o seu consumo um crime. Pois é assim mesmo, colocando-os na cadeia é que alguns servirão de exemplo a muitos. É uma pena na prisão que lhes ensinará a disciplina necessária para deixarem a fraqueza moral de lado e se redimirem. É com o medo da perda da liberdade que lhes mostraremos que não podem mais comprometer a saúde de nossa sociedade com seu exemplo de degradação moral e decadência física.
Veja o exemplo das outras drogas que foram criminalizadas. Os mais novos não saberão, mas a heroína e a cocaína eram vendidas em farmácias até os anos 20. Com a constatação do problema moral e social que elas representavam, foram proibidas com muito sucesso. E vejam o problema social que foi evitado, no momento em que se tornou ilegal seu consumo. Salvamos nossa juventude de uma vida de covardia e pusilanimidade, dando o exemplo de como combater o mal pela raiz. É hora de aplicar a mesma solução ao tabaco.

Podem dizer o que quiserem dos terríveis erros de Hitler (invadir a Rússia pouco antes do inverno, manter as tropas em Calais), mas ele foi um visionário, no momento em que foi o primeiro grande estadista a reconhecer o malefício do cigarro. (Homem de fibra e disciplina, parou de fumar e morreu-se sempre desgostoso do vício de Eva Braun). A Alemanha nazista foi o primeiro país do mundo a proibir o cigarro em lugares fechados e em recintos públicos, e chegou-se até mesmo a proibir os membros da SS e da polícia de fumarem em serviço. Temos de seguir seu exemplo, e combater com entusiasmo este mal nefasto e estas pessoas corrompidas de corpo e de alma. Estaremos fazendo um favor a elas, impedindo-as de algo que elas sozinhas não conseguem.

Já não bastasse a sífilis, este é o outro legado maldito que os primeiros habitantes das Américas nos deixaram, a verdadeira vingança de Montezuma: o tabagismo. É hora de acabar com essa doença iníqua e jogar toda a força da lei contra esta fraqueza decadente que corrói nossa pátria, nossa fibra social e nossa determinação moral.

Agilulfo de Corvalha
Cidadão indignado

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Viver

O olho vê
A lembrança revê
A imaginação transvê
É preciso transver o mundo

Manoel de Barros

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Instruções para matar formigas na cozinha

Quando se vê aquela linha formada por pequenos pontos negros subindo pelo armário e se insinuando na despensa em busca do açúcar nosso de cada dia, é inevitável a sensação de perda. Especialmente quando percebemos nosso salário desaparecendo de maneira tão prosaica, subtilmente roubado por seres tão pequenos e sem racionalidade, tal nossos fiscais da Receita.

A primeira reação é natural, a preguiça nos induz a resolver a dificuldade de uma só tacada, passando a mão do mesmo jeito que um cachorro amoroso lambe seu dono. Nada mais improdutivo. Pois formigas são como sentimentos. Deve-se ser metódico, esmagá-las com o dedo indicador uma a uma, determinada e precisamente, e não deixar nenhuma se furtar ao fatídico plec!. Concentração na tarefa é fundamental. Deve-se iniciar onde a fileira acaba, e não sendo isto possível, se por acaso ela se inscreve por linhas tortas, como Deus, começa-se onde o entendimento termina. Posto isto, o trabalho se torna mais fácil, agora é só uma questão de disciplina, e nisto está o quanto parecidas são as fomigas com os sentimentos, POIS COM DISCIPLINA MATA-SE EMOÇÕES E FORMIGAS. Atenção, aconselha-se cuidado redobrado se o caminho é feito por saúvas, ou o sentimento é por holandesas de olhos claros, pois são seres sabidamente levianos e imprevisíveis.

Findo o massacre, recomenda-se acender um cigarro e cantarolar a Nona de Beethoven em ré menor.

Adendo: O estilo deste texto é "chupado" descaradamente de um escritor muito famoso. Se um dos meus 3 leitores descobrir o livro no qual me baseei, eu enviarei um bouquet de flores ao seu endereço, em qualquer lugar do Brasil (Promoção válida até sábado dia 6 de fevereiro de 2010).

Experimento Científico

Acho que fui abduzido em Pirenópolis e me implantaram um chip de bem-aventurança no meu cérebro. Eu pensei que esta dor de cabeça que estou desde a semana retrasada era aquela cachaça vagabunda que bebi na Rua do Lazer. Intuo agora que eu deva ser objeto de uma pesquisa científica alienígena para provar que um ser humano pessimista, amargo, inseguro e misantropo pode se transformar em uma pessoa otimista, sociável, doce e segura. Tenho lembranças meio vagas de um passeio interestelar perto de Betelgeuse, mas eu imaginei que viagem de ácido era assim mesmo.

Vamos aguardar o final do experimento; saberei que estará terminado quando minha dor de cabeça passar. Acho que vou ligar para o Moulder.