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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

domingo, 27 de junho de 2010

Me Desculpe-Me ...

O perdão mais difícil de ser concedido é aquele pelo mal feito a si mesmo.

É a decisão mais inteiramente só.

Você tem de admitir, com sinceridade absoluta, que o único responsável é você, somente você, e nenhuma outra pessoa.

E nesse momento você é vítima, réu, juiz e carrasco de si mesmo. E não há nada, nem Deus nem ninguém, entre você e sua consciência.

domingo, 20 de junho de 2010

As comadres do Guadalquivir

Depois de um passeio pelo rio que corta Sevilha, me sentei numa praça ali perto, cheia de velhinhas espanholas e algumas crianças. Um lugar sossegado e acolhedor, no final da avenida de la Constituición. Duas senhoras que por ali andavam me olharam, riram e falaram en passant comigo algo que não entendi, numa língua que não compreendi. A minha sensação foi de inadequação, que me ocorre no estrangeiro sempre quando me apontam. Seria uma praça somente para idosas espanholas, e não recomendado para marroquinos de meia idade? Seria inapropriado abrir sacos com lanche de turista sem dinheiro? Não percebi desaprovação na velhinha ao meu lado, que plácida acompanhava a cena. Afinal, elas passaram rindo, e pensando bem, foram até amistosas. Perguntei à minha colega de banco o que elas haviam dito; tampouco ela entendeu, pois espanhol não era. Deixei para lá e peguei meu sanduíche.


Não deu dez minutos e elas voltam, me olham, gesticulam e passam rindo alto. A crise de identidade surge, repentina. ¿Que pasa? Fui tomado por um ator de cinema turco? Por um fugitivo romeno? Quem realmente sou, que velhinhas joviais abordam em praças de Sevilha em língua incompreensível?


Subitamente ansioso, supero minha timidez e puxo conversa com a velhinha ao lado. Era paraguaia e falava algo de português, pois havia morado em São Paulo. Identifico-me, conto um tanto de mim e da minha história, faço-a rir (“depois de viúva a senhora não se casou por desinteresse ou desilusão?”). Volto a sentir-me, concreto. Levanto e vou visitar La Giralda, desafogado.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Menos que isso não consigo...

Quando desejo uma mulher, não é só de seu corpo, é também de seu gozo, seu sorriso, suas lágrimas e sua tristeza. Desejo-a humana.

Quando quero uma mulher, não me interessa tê-la em parte: a almejo toda, plena, irrestrita. Quero-a inteira.

E quando amo uma mulher, todas as mulheres, de todos os tempos, são ela. Amo-a Absoluta.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Afeto no Condicional

Houvesse respeito, não haveria desprezo;
Houvesse amizade, não haveria traição;
Houvesse vontade, não haveria fraqueza;
Houvesse atração, não haveria recusa;
Houvesse troca, não haveria competição;
Houvesse admiração, não haveria raiva;
Houvesse entrega, não haveria medo;
Houvesse amparo, não haveria ausência;
Houvesse grandeza e generosidade, não haveria mesquinharia nem vaidade.

Que haja amor.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Há males que vêm para bem

Estas palavras de Fernando Pessoa já me pertenceram:

"Entre eu e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não lhe posso tocar."

Hoje, digo:

Espatifei o vidro com um murro. Machucou-me a mão, o sangue brotava. Lambi minuciosamente o ferimento; ao final a minha saliva estancou-o.

Fica a cicatriz, marca de meu ato de coragem, impetuoso mas não desatinado.