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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

quinta-feira, 31 de março de 2011

Descrição e prescrição

Sou uma pessoa que raramente digo a alguém o que fazer; mal sei cuidar da minha vida, o que dirá da dos outros. Pois já fiz tanta besteira que devo admitir que não sou exemplo para ninguém: tirante o “Não Matarás”, acho que já descumpri todos os Dez Mandamentos. E várias vezes.

Por isso tenho muito claro que falar com naturalidade sobre um determinado comportamento não implica necessariamente em aprová-lo, e muito menos recomendá-lo aos outros. Mas ultimamente noto que muito de meus interlocutores não percebem isto.

Eu acho que eles fazem parte de um grupo cada vez mais maior de pessoas que andam demasiado fechados em si mesmos, e não conseguem reconhecer que se pode vivenciar experiências de outras pessoas e não somente as suas, e que é possível (e desejável) se libertar da teia de suas próprias sensações e crenças, cruzar a ponte entre as subjetividades e entender o ponto de vista de outrem.

Por este desinteresse (ou incapacidade) de sair de si mesmas, elas costumam achar que o que se fala ou se descreve é sempre o fruto de uma experiência pessoal direta e concreta, especialmente quando o jeito de se contar é elaborado. Penso aqui no equívoco recorrente sobre Nelson Rodrigues, considerado por muitos um pervertido por que escrevia muito bem sobre perversões. Afinal, se você consegue descrever isso com tanto detalhe, é porque você deve ser assim, certo? Errado; ele era um reacionário, e mostrava as perversões justamente para condená-las...

Mas o que me motivou esta reflexão foi uma conversa que tive com alguns colegas sobre traição - tema sempre polêmico. Todos ficaram escandalizados quando afirmei que há pessoas capazes de trair seu parceiro e não sentir a menor culpa. O que eles não entenderam foi que eu não chancelava este comportamento, não o achava louvável e muito menos agia assim. Simplesmente constatei um fato de ordem emocional e ponto. Por favor, senhores, descrição não é prescrição.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sexo fácil pode ser bem complicado...

Uma das grandes conquistas da nossa vida contemporânea é a liberdade sexual. E sua consequência imediata, o sexo casual, é considerado uma realidade quotidiana sem maiores questionamentos morais. Também não vejo problema nisso, pois é perfeitamente legítimo e até enriquecedor se deixar levar eventualmente pelo desejo e satisfazê-lo, se não magoa ninguém e é consensual entre dois adultos.

Mas é o tipo de conduta que deve se ter com moderação, e baseio esta minha opinião neste trecho de Fernando Pessoa: “Um amor é um instinto sexual, porém não amamos com o instinto sexual, mas com a pressuposição de outro sentimento. E essa pressuposição é, com efeito, já outro sentimento”.

Nesta linha, o sexo pode ser apenas a satisfação de um desejo momentâneo baseado em um instinto, mas também pode ser a mais sublime expressão de entrega e amor que alguém pode oferecer a outra pessoa. Se sexo casual vira “estilo de vida”, seu praticante banaliza a troca e a entrega, pois a repetição do sexo puramente carnal condiciona a ver o outro como apenas um objeto de seu prazer, e não um sujeito com consciência que deve ser respeitado como tal. Em suma, esteriliza-se o afeto e instrumentaliza-se o ser humano. E ao final, transitar continuamente em um mundo de objetos sexuais transforma a própria pessoa em objeto, e ela se torna dura, cínica e com dificuldade de viver um amor verdadeiro.

Não é por outra razão que os profissionais que alugam seus corpos são tão problemáticos, pois sua posição exige que se ofereça a estranhos a mais alta manifestação de afeto que existe. Não é à toa, portanto, que quase todos se drogam muito para poderem lidar com o fato de terem de, sem carinho, expressar entrega, doação e prazer.

Tudo na vida tem seu preço; quem sempre trata os outros como objeto se transforma em um, e o que as mulheres de “vida fácil” cobram pelo uso de seu corpo acaba sendo muito pouco em comparação ao que lhes custa em termos de dureza, aviltamento e desamor.