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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Vida Perfeita não vale a pena

Sempre achei que quem tem uma vida perfeita na verdade leva uma existência miserável. Isto por que quem busca e consegue ter um emprego perfeito, com marido e filhos perfeitos e morando em uma casa perfeita vive sempre no fio da navalha, no fundo apavorado que um dia a harmonia se estilhace.

Obter a felicidade deste jeito nos faz depender dos outros para nosso próprio bem-estar, e tentaremos controlar tudo e todos ao nosso redor para manter a estabilidade do conquistado, o que demanda um enorme desgaste físico e psicológico.

E mesmo que se consiga, é um equilíbrio instável, como uma bolinha em cima de uma roda: pode até ficar parada por um tempo, mas a tendência sempre é ela cair lá de cima. E quando o mundo perfeito se despedaça, ele se despedaça todo, já que qualquer coisa fora do lugar já destrói a simetria do conjunto.

Por isso, para mim não vale a pena nem tentar ser perfeito, porque o ser humano nunca deixará de ser contraditório e paradoxal, e a vida (complexa como só ela...) é sempre cheia de acasos e surpresas. Por isso, devemos ter a humildade de reconhecer que a perfeição não existe, e o que devemos tentar controlar não é a nossa vida nem a dos outros, mas sim a maneira como encaramos as desditas e as venturas que a sorte nos oferece: as primeiras com serenidade e tolerância, e as segundas com satisfação e alegria.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"Você sabe falar português?"

Confesso que sempre tive meio birra em ter o português como língua materna, pois é idioma europeu periférico, e quase que um espanhol abastardado. E só não perde para, digamos, o sueco ou o holandês em irrelevância cultural porque os lusitanos conseguiram criar um país que hoje conta com quase 200 milhões de habitantes, um certo Brasil.

Mas é minha vez de mostrar a língua para os franceses ledores de Rimbaud e os italianos de Dante quando me refestelo com fluência em Fernando Pessoa e Machado de Assis. Eles só não são aclamados nos círculos literários mundiais justamente por já serem falecidos e terem escrito na tal língua periférica, senão seriam tão reconhecidos quanto um Borges ou um García Marquez. Pessoa e Machado são escritores geniais e incomparáveis a quaisquer outros em línguas européias. O português com seus heteronômios e a agudíssima sensibilidade humana, que avançava na morbidez. E o brasileiro com seu misto de humor e filosofia, e que usava o estilo como quem esgrime, elegante nos seus movimentos precisos e sempre fulminantes.

Sinto-me assim privilegiado em poder compreendê-los em suas matizes e riquezas de significados e estilos, e isto só os luso-falantes podemos nos gabar.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Jogos de Azar

Faz pouco tempo uma amiga me disse que eu era uma pessoa de muita sorte. Não havia nem uma semana que eu tinha perdido o emprego e ainda por cima cheio de dívidas, e por isso supus que ela estava de gozação com minha cara desempregada. Perguntei de algum fato concreto que a corroborasse, e ela não soube me responder, argumentando que era somente uma intuição. Também não insisti.

Mas como sempre acontece comigo, alma obsessiva e dada à reflexão, fiquei com aquilo na cabeça, renitente. Até perceber que eu, também intuitivamente, concordava com ela.

Isto porque veio a mim que nos últimos tempos, a cada pancada na cabeça que a vida me dá, eu agradeço e em seguida na minha consciência surge um “que cara de sorte eu sou”. Parece mecanismo de fuga, mas não é isso, já que sempre fui lúcido. E não é por que eu acho que poderia ser pior, e que ao invés de só perder o emprego eu ainda poderia ter sido humilhado, ou que além de ter me decepcionado eu poderia ter sido traído. Então não é complexo de Poliana, tampouco.

Não, não é nada disso. Mas então o que é?

Mais uma vez, divagar sobre o significado das palavras me deu a resposta que buscava. Ontem de tarde, fazendo supermercado, o pensamento me surgiu, límpido: em francês se diz “bonne chance” quando se deseja boa sorte para alguém! Bingo: ter sorte é ter chances; e claro que toda chance é uma oportunidade! Matei: sorte = chance = oportunidade!

Resolvido o substantivo, fui excitado em busca do verbo: compreendi que no meu caso não é “ter”, mas “haver”. Pois não é que eu “tenha” sorte, um acordo tácito que fiz com o universo para ele me ajudar; na verdade “há” hoje algo dentro de mim, uma peculiar faculdade, que me faz encarar as vicissitudes como desafios a vencer e não problemas a sofrer.

E isto torna minha vida imensamente divertida de usufruir, já que adoro colocar para trabalhar os meus recursos intelectuais e emocionais para tirar o melhor das situações ruins nas quais sou metido (ou me meto).

Diz o ditado que “para mal jogador, até a bola atrapalha”. Para mim, que gosto de me acreditar um bom jogador, agora toda bola dividida é chance de gol.