Confesso que sempre tive meio birra em ter o português como língua materna, pois é idioma europeu periférico, e quase que um espanhol abastardado. E só não perde para, digamos, o sueco ou o holandês em irrelevância cultural porque os lusitanos conseguiram criar um país que hoje conta com quase 200 milhões de habitantes, um certo Brasil.
Mas é minha vez de mostrar a língua para os franceses ledores de Rimbaud e os italianos de Dante quando me refestelo com fluência em Fernando Pessoa e Machado de Assis. Eles só não são aclamados nos círculos literários mundiais justamente por já serem falecidos e terem escrito na tal língua periférica, senão seriam tão reconhecidos quanto um Borges ou um García Marquez. Pessoa e Machado são escritores geniais e incomparáveis a quaisquer outros em línguas européias. O português com seus heteronômios e a agudíssima sensibilidade humana, que avançava na morbidez. E o brasileiro com seu misto de humor e filosofia, e que usava o estilo como quem esgrime, elegante nos seus movimentos precisos e sempre fulminantes.
Sinto-me assim privilegiado em poder compreendê-los em suas matizes e riquezas de significados e estilos, e isto só os luso-falantes podemos nos gabar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Identifique-se, por favor.