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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

domingo, 26 de setembro de 2010

Alguns Provérbios Revisitados

“A cavalo dado não se olha os dentes”, disse o rei de Tróia.

‎”Aqui se faz, aqui se paga”. Mas tem gente com a dívida tão alta que só vai conseguir quitar na próxima encarnação.

“Quem com ferro fere, com ferro será esquecido.”

“Seguro morreu de velho”. Será que viveu?

“Um dia a casa cai”. Mas nem sempre na cabeça de quem a gente gostaria.

“Burro calado passa por sábio”, e é até promovido.

“A justiça é cega”; o amor também.

“Quem planta, colhe”: se bem que às vezes a gente planta jasmim e colhe urtiga.

“Se conselho fosse bom, a gente vendia”. Me arrependi de ter dado tantos, outro dia alguns me fizeram bastante falta.

domingo, 19 de setembro de 2010

Diálogo das Virtudes Universais

S.: Você é o ateu mais ético que eu conheço!
C.: Afe, por que você diz isso?
S.: Ah, você não acredita em Deus, nem tem nenhuma religião, mas no trabalho você procura ser sempre justo, falar sempre a verdade, ouvir todas as partes antes de julgar, e é transparente em suas decisões. Interessante ser ateu e ser tão escrupulosamente moral.
C.: Engraçado que as pessoas sempre dizem, religiosas ou não: “Se Deus não existe, então tudo é permitido”. Nunca vi desta maneira. Viver sem Deus é mais complicado ainda, impõe muito mais responsabilidades do que ter religião.
S.: Como assim? Se você não tem uma moral dada por um Ser Superior, e portanto não vai para o inferno por fazer coisas erradas, você pode fazer o que quiser na sua vida, ser egoísta, não ligar para ninguém...
C.: Ah, a gente tem de ter virtudes e fazer o Bem, independente de se ter um Deus moral ou não. Já fui “acusado” exatamente disso por uma senhora luterana, uma daquelas alemãs nascidas no interior do Rio Grande do Sul bem conservadoras e rigorosas. Eu disse a ela que ser cristão é muito mais fácil que ser ateu, já que o cristão tem um Deus ao qual ele pode se confessar e pedir perdão pelos seus erros. Mas eu, como não tenho Ninguém a quem recorrer, só tenho a mim como juiz dos meus atos. E devo ser um juiz muito mais rigoroso, porque na falta de balizamento externo, convém sempre pecar por excesso, e não por falta. Por isso, eu raramente me perdôo quando erro. E depois, claro que todos nós temos de ter virtudes, pois não se vive em sociedade de outro jeito.
S.: Não entendo o que você quer dizer. O que tem moral a ver com sociedade? Para mim, que sou religioso, a moral é uma só, e independe de nós, é algo que vem de cima.
C.: E para mim a moral é construída pela vida em sociedade, e há virtudes que são universais, mesmo que não sejam absolutas.
S.: Agora você me embaralhou. O que pode ser universal e não ser absoluto?
C.: É simples: para serem absolutas, as virtudes precisam vir de um Deus, único e supremo. Para serem universais, tem de existir em todas as culturas.
S.: Como assim? Uma moral que sirva para todas as culturas? Para o índio e para o sueco? Para o chinês e para o pigmeu?
C.: Exatamente. Há virtudes que toda e qualquer sociedade precisa valorizar, senão ela se desmancha, se inviabiliza. A verdade, por exemplo. Se você não valorizá-la, se você permitir que todo mundo minta o tempo inteiro, ninguém mais vai confiar na palavra de ninguém e acaba a comunicação entre as pessoas.
S.: Mas todo mundo mente, uma hora ou outra. Ninguém consegue ser sincero o tempo inteiro.
C.: Claro, porque ninguém é perfeito. Mas não se pode mentir sempre. Repare que quem é tachado de mentiroso não é mais confiável e “sai do jogo”. E tem outras virtudes importantes: a capacidade de perdoar, pois sem o perdão das ofensas recebidas, e sempre agredindo quem nos ofendeu, a espiral de agressão nunca acaba, e as comunidades se desestabilizam. Por isso se fala em “dar a outra face”, para assim evitar as agressões mútuas eternas. Uma terceira é a gratidão, a base de qualquer troca social: eu lhe faço um favor, você fica grato e me retribui. Não é à toa que no mais profundo círculo do Inferno de Dante eram punidos os ingratos, como Brutus e Judas Iscariotes. A coragem também é uma virtude, porque quem não a tem, o medroso, acaba sendo mesquinho, pequeno, mau. E tem muitas outras ainda, como a tolerância, a paciência e a compaixão.
Para concluir: Não precisamos de nenhum Deus que nos imponha nada de cima, pois viver em sociedade já nos ensina isso. E o jeito de aplicar a moral no nosso cotidiano é a ética: normas de conduta e de agir dentro de uma comunidade. Pois ninguém é ético consigo próprio, mas sempre com os outros, e temos de ter estas qualidades para viver bem com nossos semelhantes. E depois, a mais grandiosa maneira de ser feliz é fazer os outros felizes. Por isso para mim Ética é Felicidade.

Judeca

No nono, último e mais profundo círculo do Inferno de Dante Alighieri está a Judeca, no qual é punido o pior de todos os pecados: o da traição aos benfeitores. Lá é que está sentado Lúcifer, com suas três cabeças representando a impotência, o ódio e a ignorância. Uma de suas bocas morde Judas Iscariotes, e uma outra, Brutus. O castigo para os ingratos é ficar preso no gelo (alguns de cabeça para baixo, outros com as mãos e pés presos) por toda a eternidade.

domingo, 12 de setembro de 2010

What you give is What you get

O mundo se molda e responde a você de acordo com as suas próprias expectativas e demandas, e como você se mostra a ele. Você interage de acordo com seus desejos e recebe o que você quer, mesmo que não saiba conscientemente. Se você dá alegria e disposição, o mundo vai retribuir assim; se você dá agressividade e incompreensão, ele vai lhe retornar isso. Mas de maneira ampla, abrangente, não somente em relações pessoais. Como disse Schopenhauer, nós somos responsáveis por tudo o que acontece conosco em nossa vida. Existe uma cadeia de relações infinitamente complexas entre nós e quem e o que nos cerca (e a qual nunca conseguiremos apreender inteiramente) que permite que as pessoas positivas consistentemente tenham “sorte”, e as pessoas negativas tenham “azar”.

Claro que fatos ruins acontecem a todos, mas a positividade ou negatividade da pessoa é que vai fazer com que aquele ocorrido a impulsione ou a derrube. O impulsionar é devido à força de ânimo e à vontade de aprender. E o derrubar é devido à impotência e à ignorância.

Minha mãe uma vez comentou com o corretor que alugava nossa casa de praia que achava curioso o fato de o nosso vizinho, apesar de ter 2 dobermans ferocíssimos, ter tido a casa assaltada três vezes nos últimos anos. Aí o corretor perguntou: “como o seu vizinho trata os caseiros?”