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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

domingo, 19 de setembro de 2010

Diálogo das Virtudes Universais

S.: Você é o ateu mais ético que eu conheço!
C.: Afe, por que você diz isso?
S.: Ah, você não acredita em Deus, nem tem nenhuma religião, mas no trabalho você procura ser sempre justo, falar sempre a verdade, ouvir todas as partes antes de julgar, e é transparente em suas decisões. Interessante ser ateu e ser tão escrupulosamente moral.
C.: Engraçado que as pessoas sempre dizem, religiosas ou não: “Se Deus não existe, então tudo é permitido”. Nunca vi desta maneira. Viver sem Deus é mais complicado ainda, impõe muito mais responsabilidades do que ter religião.
S.: Como assim? Se você não tem uma moral dada por um Ser Superior, e portanto não vai para o inferno por fazer coisas erradas, você pode fazer o que quiser na sua vida, ser egoísta, não ligar para ninguém...
C.: Ah, a gente tem de ter virtudes e fazer o Bem, independente de se ter um Deus moral ou não. Já fui “acusado” exatamente disso por uma senhora luterana, uma daquelas alemãs nascidas no interior do Rio Grande do Sul bem conservadoras e rigorosas. Eu disse a ela que ser cristão é muito mais fácil que ser ateu, já que o cristão tem um Deus ao qual ele pode se confessar e pedir perdão pelos seus erros. Mas eu, como não tenho Ninguém a quem recorrer, só tenho a mim como juiz dos meus atos. E devo ser um juiz muito mais rigoroso, porque na falta de balizamento externo, convém sempre pecar por excesso, e não por falta. Por isso, eu raramente me perdôo quando erro. E depois, claro que todos nós temos de ter virtudes, pois não se vive em sociedade de outro jeito.
S.: Não entendo o que você quer dizer. O que tem moral a ver com sociedade? Para mim, que sou religioso, a moral é uma só, e independe de nós, é algo que vem de cima.
C.: E para mim a moral é construída pela vida em sociedade, e há virtudes que são universais, mesmo que não sejam absolutas.
S.: Agora você me embaralhou. O que pode ser universal e não ser absoluto?
C.: É simples: para serem absolutas, as virtudes precisam vir de um Deus, único e supremo. Para serem universais, tem de existir em todas as culturas.
S.: Como assim? Uma moral que sirva para todas as culturas? Para o índio e para o sueco? Para o chinês e para o pigmeu?
C.: Exatamente. Há virtudes que toda e qualquer sociedade precisa valorizar, senão ela se desmancha, se inviabiliza. A verdade, por exemplo. Se você não valorizá-la, se você permitir que todo mundo minta o tempo inteiro, ninguém mais vai confiar na palavra de ninguém e acaba a comunicação entre as pessoas.
S.: Mas todo mundo mente, uma hora ou outra. Ninguém consegue ser sincero o tempo inteiro.
C.: Claro, porque ninguém é perfeito. Mas não se pode mentir sempre. Repare que quem é tachado de mentiroso não é mais confiável e “sai do jogo”. E tem outras virtudes importantes: a capacidade de perdoar, pois sem o perdão das ofensas recebidas, e sempre agredindo quem nos ofendeu, a espiral de agressão nunca acaba, e as comunidades se desestabilizam. Por isso se fala em “dar a outra face”, para assim evitar as agressões mútuas eternas. Uma terceira é a gratidão, a base de qualquer troca social: eu lhe faço um favor, você fica grato e me retribui. Não é à toa que no mais profundo círculo do Inferno de Dante eram punidos os ingratos, como Brutus e Judas Iscariotes. A coragem também é uma virtude, porque quem não a tem, o medroso, acaba sendo mesquinho, pequeno, mau. E tem muitas outras ainda, como a tolerância, a paciência e a compaixão.
Para concluir: Não precisamos de nenhum Deus que nos imponha nada de cima, pois viver em sociedade já nos ensina isso. E o jeito de aplicar a moral no nosso cotidiano é a ética: normas de conduta e de agir dentro de uma comunidade. Pois ninguém é ético consigo próprio, mas sempre com os outros, e temos de ter estas qualidades para viver bem com nossos semelhantes. E depois, a mais grandiosa maneira de ser feliz é fazer os outros felizes. Por isso para mim Ética é Felicidade.

3 comentários:

  1. Bravo!!
    Concordo com cada serifa de cada letra, e penso exatamente assim!

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  2. Jakson, convido a você a continuar a ler o blog e por favor fique à vontade para postar seus comentários, mas em uma linguagem de respeito para com as crenças e opiniões diferentes das suas, o que faltou no seu comentário que tive de retirar, dada a linguagem grosseira que você usou. O bom argumento não é aquele que ofende o adversário, e sim aquele que o convence. Grande abraço.

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  3. Gosto muito do "diálogo".

    Se o comentarista não tivesse sido impróprio, talvez até rendesse uma discussão interessante. É uma pena.

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