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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

domingo, 9 de dezembro de 2012

Pontos de Vista


O que ela quer comigo, afinal? Está me deixando louco, ela
Será que ele vai reparar no meu novo corte de cabelo? Faço
implica comigo o tempo inteiro, tudo o que eu faço
de tudo para mostrar que ele chama minha atenção, reparo
ela comenta, desde a cor do meu guarda-chuva até
nos mínimos detalhes da roupa e até no tom de voz, ai, ele é muito
se falo alto no telefone, eu me sinto perseguido, julgado, como
atraente, não consigo tirar os olhos dele, não resisto e falo algo.
se parece com minha mãe que me vigiava e controlava e
Ele tem um jeito meio largado que mexe com meu instinto materno,
criticava e não me deixava nem respirar. E isto até meus vinte e poucos, e minha mãe
apesar de ser um quarentão, mas os homens são eternas crianças, né?
demorou para perceber que eu já tinha crescido e era um adulto e
E esse Roberto é do tipo macho arrogante e por isso eu tenho
não precisava de ninguém me mandando, demorou muito para me libertar
de baixar a bola dele toda hora, sou mais velha e
dela, parecia mãe judia, cruz credo, sempre me colocando defeito.
tenho de ser firme, para deixar do jeito que
Parece que faz isso para o filho ficar dependente o resto da vida...
eu gosto, homem não tem jeito, tem que melhorar sempre.
Que raiva da Vladimira, só comigo acontece de ter uma colega sem sal desse jeito!
Mas o mais importante é que ele repara em mim, pois toda vez que
E ainda por cima faz cada pergunta idiota, não sei por que ainda respondo, é
faço uma perguntinha bobinha para chamar a atenção, eu percebo
esta educação que não me deixa ser grosseiro, respiro fundo e com ódio
que mexo com ele, meu charme é fatal, e que homem gentilíssimo,
mas respondo, já que é muita falta de educação deixar pergunta sem resposta
claro que é gentil assim por que está interessado em mim, pois se sabe
só que acabo de responder e percebo que mais uma vez fui um imbecil, alimentando
que homem hoje em dia só é educado quando quer algo.
esta mania de implicância dela, um dia eu a mando calar essa boca
Eu percebo que ele quer dizer algo mais e sempre se controla, só que
mas se eu faço isso eu vou perder o emprego, caramba, ela é amiga do chefe.
um dia eu o faço perder a cabeça e ele vai se declarar para mim.

domingo, 2 de dezembro de 2012

De domingos e urubus

Apesar do nome nobre, Dia do Senhor, o Domingo não é um dia que as pessoas especialmente gostam, já que é a véspera da segunda-feira (ou “lues”, como se dizia em português antigo...), e que por sua vez é sem dúvida o dia mais odiado da semana em línguas antigas ou modernas. Mas neste domingo o dia estava tão luminosamente especial, com aquela luz que lembra a primavera na Toscana, que até vi dois urubus, aves que soem ser sisudas, brincando nos céus como periquitos.

Ou será que acordei tão bem que estou achando que urubu é meu lôro?

domingo, 21 de outubro de 2012

Palavra Fatal

"Fatal" é o adjetivo de “fado”, que vem do latim fari (profetizar, pronunciar, falar). "Fado" quer dizer “destino”, “sorte”, e portanto não é só um tipo de música que a Amália Rodrigues cantava.

Mas em português "fatal" virou sinônimo de "mortal", o que simploriamente constata o fato de que a morte é o fado de todos nós. Constatação com a qual estamos todos de acordo, com exceção talvez de uma moça bonita que uma vez me disse que os “homens morriam mais do que as mulheres”.

 Chamar de “fatal” somente o que está relacionado à morte tira as muitas possibilidades da palavra e restringe o alcance de nosso pensar. Mas algumas correlatas resistem, como “fatalismo”, que ainda mantém a amplitude de “destino”. E veja que em italiano "fatídico" é algo “inelutável”, mas não necessariamente “mortal”.

 Penso que esta limitação é reveladora de certo derrotismo português que herdamos, e que é tão importante para a alma lusa que define até a sua música nacional.


domingo, 19 de agosto de 2012

Resenha de "Match Point"

Match Point é tentativa bem sucedida de Woody Allen de fazer drama. Não é comédia e não é leve e superficial como os filmes típicos de sua nova fase. Nesta película ele acerta em cheio um filme denso, elegante e com uma proposta filosófica sofisticada. Ao mesmo tempo, o cineasta preferido de dez entre dez pseudointelectuais mostrou que não precisa arremedar Bergman (ele chegou a ter o diretor de arte do sueco em Setembro) para ser profundo. E justiça seja feita, desta vez ele consumou uma obra madura, compreensível e por que não, excelente.

O primeiro feito pelo diretor na Inglaterra, este filme parece apenas mais uma história de falta de escrúpulos e alpinismo social. O roteiro é simples: em Londres, professor de tênis irlandês de origem humilde (Chris) ascende socialmente por meio do afeto de uma milionária inglesa sensaborrona (Chloe), arranja uma amante americana quente (Nola), e ao engravidar esta última, resolve a “questão” com um crime perfeito. So far so good. Uma história muito bem contada, mas também uma reflexão sobre a sorte, a culpa e o destino.

Já na abertura, uma voz em off declara que grande parte da nossa vida é definida pela sorte - e o quanto isto é amendrontador. Evidente e didático: vamos assistir a uma fábula sobre o papel da sorte em nosso destino.

Sorte, veja bem, e não ordem: não há lei superior a organizar nossas vidas, e nosso mundo social é tal como a natureza, segundo Niestzsche propôs: uma entidade sem moral, nem boa nem má, e que apenas existe. E o acaso talvez seja o mais difícil para o ser humano lidar, já que o mundo precisa fazer algum sentido para conseguirmos levar a nossa própria existência - o suicídio de índios desenraizados é uma infeliz prova antropológica do oposto. E é um desafio para o cérebro humano, condicionado a ver padrões, regularidades, leis e sentidos, ter de considerar que a sorte pode ser mais importante do que talento, Deus, ou até o dinheiro, para se conseguir a felicidade.

Mas o filme, formidável, não trata somente disso: suspeita-se disso na cena na qual o protagonista lê Crime e Castigo de Dostoiévski, um livro que fala não de acaso, mas de erro, culpa e punição. Como a cena não contribui para a trama, ela pode ser tomada como uma advertência, como se o diretor dissesse: “preste atenção nas entrelinhas, pois não é só de acaso que eu vou tratar”.

E é isso mesmo. A narrativa discorre banal  e um pouco arrastada, ainda que bem conduzida, até seus exatos 108 minutos, quando um crime acontece. A partir daí o filme repete elementos do livro do russo: dois assassinatos, o sofrimento na culpa, o detetive que sabe o criminoso e um inocente incriminado.

Mas tanto Dostoiévski o autor quanto Raskolnikov o protagonista são profundamente religiosos, e por esta razão este último se entrega à justiça ao final do livro, já que ele sente culpa, sabe que errou e que o Mal deve ser punido. Já Chris não é nenhum Raskolnikov e enquanto este vai buscar sua absolvição cumprindo pena na Sibéria, Chris até se sente culpado, mas se habitua e acaba por constatar que “tudo passa”.  E escapa várias vezes de ser preso, por “golpes de sorte”.

Na verdade, os grandes temas do livro estão condensados nos 15 minutos finais, e toda a filosofia do filme está sintetizada na cena em que Chris sonha com suas vítimas: arrasado pela culpa, ele diz que gostaria que houvesse justiça para o que ele fez, e assim ter alguma esperança de sentido na vida. No entanto, isto é um sonho compensatório, pois ele leva uma vida confortável e sem punição, mas também sem sentido e ao lado de quem não ama. Diferente de Raskolnikov, que se submete a uma vida duríssima na Sibéria para dar sentido à própria vida e ao lado de quem ama, pois sua noiva o acompanha.

Aí chegamos à “moral” do filme: não existe justiça divina nem muito menos humana, os maus não são punidos e tudo é aleatório. Por isso somos eternamente vítimas do acaso e a vida não tem sentido. É ou não é um grande filme?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Santíssima Trindade Musical

O que no Rio se chama de inverno é um momento chuvoso, suave e tranquilo. E que por estas qualidades é uma estação que convida à reflexão e à introspecção, algo impossível no verão com seus céus opulentos de sol e seu calor de umidade opressiva.
 
E nesta chuva fresca eu gosto de ficar em casa ouvindo tango e tomando mate, pois para mim os três são elementos que entram em harmonia; chuva, mate e Piazzolla.

Ouvindo o Concierto para Quinteto e embalado pelos alcalóides estimulantes da erva-mate, tenho uma sensação mística de enlevamento espiritual. Percebo então que esta é uma das músicas que têm a capacidade de transcender nossa materialidade e ir além e acima deste concreto sensível em que vivemos.

Suspenso por estas sensações imagino diante de mim uma Santíssima Trindade Musical, e coloco esta música junto às outras que me provocam este contato com o transcendente: o primeiro movimento do Concerto de Brandenburgo no. 02 de J. S. Bach e a Ode à Alegria da 9a. Sinfonia de Beethoven.

Se eu tivesse em busca de manifestações da grandeza de D´us, qualquer destas músicas seria um bom começo.

domingo, 29 de julho de 2012

Budismo Nichiren para fotógrafos


é possível, sendo mente e corpo a mesma coisa, e a natureza o retrato do espiritual, como a APARÊNCIA é o retrato do MATERIAL, que a ENTIDADE, síntese de ambos, permita que as virtudes universais se manifestem como imagem da natureza e da aparência exterior. se somos todos uma coisa só, e a verdade da NÃO SUBSTANCIALIDADE revela que os fenômenos são e não são, podemos perceber a abstração com nossos sentidos e portanto ver as características humanas no não humano. portanto, é possível fotografar virtudes humanas como gratidão, tolerância e coragem.

domingo, 22 de julho de 2012

Dia e Noite

O dia é o concreto, o útil. E o prático

A noite é o abstrato, o fútil. E o poético

O dia é onde fazemos, a noite é onde sonhamos

(Não à toa, a noite é o momento dos amantes)

O dia é banal e a noite é misteriosa

*****

A noite nos traz a intuição da eternidade