Foto Principal

Foto Principal
Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

domingo, 31 de janeiro de 2010

Des-razão

Desde que eu era um animalzinho vagamente racional de seus 40 centímetros eu sempre fui muito curioso; sempre busquei entender a causa e o efeito de tudo o que via a minha volta. Olhava as plantas ou as pessoas, e queria saber por que elas cresciam, ou porque tinha tanta tristeza no mundo. Pensava e pensava e pensava. E depois que me tornei adulto, lá pelos meus 1 metro e 20, percebi que conceituar, abstrair, e traçar paralelos entre situações, pessoas e contextos vinham naturalmente para mim. Nunca fui uma pessoa muito concreta, que entendia por exemplos ou usava a experiência direta para aprender. “O tolo aprende com os próprios erros, o sábio aprende com os erros dos outros”; eu me considerava sábio.

Li em algum lugar que existem três tipos de pessoas, quando se fala em aprendizado da vida. Tem aquele tipo que só aprende por meio da experiência pessoal direta; chamaria este de “vivencial”. Outro tipo é daquele que aprende por meio de exemplos, histórias contadas e circunstâncias reais. Seria o tipo “concreto”. E o terceiro tipo é o que apre(e)nde por meio do conceito e da idéia. Conceitos que se deduzem de uma situação e se aplicam a outras. Idéias generalizadas a partir de vários fatos observados. Este seria o tipo abstrato (ou científico, pois é assim que a ciência se estrutura). Eu me reconheço no terceiro tipo, pois faz parte da minha estrutura mental memorizar abstrações e conceitos, nunca situações, falas e contextos. Eu assimilo e arquivo a idéia e o que eu aprendi, quase nunca as circunstâncias. Claro que todo mundo tem estes 3 tipos misturados, posto que são apenas tipos ideais. Mas cada um tem o seu preponderante. Eu sou abstrato.

Pelo fato de ter uma família disfuncional, minha educação e meu entorno infantil desestimularam outras formas de perceber a realidade. Reprimi minhas emoções e me tornei um autista (nas palavras de uma tia minha) pois não respondia emocionalmente ao mundo, já que tinha criado uma couraça afetiva para me proteger da instabilidade emocional de um alcóolatra agressivo e de uma masoquista pessimista.

Tornei-me o mais racional dos racionais. Foi provavelmente o que me salvou emocionalmente, por mais contraditório que isto pareça. Isto e o afeto de minha família materna, doidos como toda família é doida, mas que me davam nas férias o carinho incondicional e o respeito pela minha situação de criança que me faltavam tanto com meus pais no resto do ano.

Salvou-me porque pude assim preservar dentro de mim o potencial de ter emoções boas e positivas. Obviamente elas ficaram soterradas na amargura vivida, no pessimismo ensinado e na certeza de que a felicidade não existia. Mas elas estavam lá, escondidas.

E lentamente, com o passar dos anos e me relacionando com os amigos e as namoradas, fui aprendendo a dar e receber afeto, e embarquei em um lento e elaboradíssimo esforço, consciente e inconsciente, de me abrir emocionalmente para o mundo. E entender o mundo através da emoção, e não somente e puramente pela racionalidade abstrata.

Li muito. Estudei muito. Raciocinei muito. Racionalizei muito. Filosofei muito. E nunca nada disso me satisfez. Porque eu entendia as pessoas, as coisas, as situações; percebia suas relações, suas consequências, seus resultados, mas eu não assimilava dentro de mim, fundamentalmente dentro de mim. Por que, sendo do tipo abstrato, o concreto e o vivencial estavam bem reprimidinhos na convicção de que a racionalidade era o que nos separava dos animais, e por isso, que o espírito era mais nobre que a carne e a emoção. Que engano. Quantos anos perdidos.

Agora cansei-me da razão. Claro que serei sempre conceitual e abstrato, mas descobri que a emoção é uma depositária muito mais enriquecedora das minhas experiências e que deve ser estimulada e valorizada. Porque mais duradoura; porque mais intensa; e por ser a emoção o que nos dá disposição para viver e ir em frente (ou não). Ela não serve somente para o amar e o sofrer. Ela serve também para impulsionar nossas decisões, profissionais e outras. Quem sempre decide somente com a razão decide mal. As emoções e sua manifestação mais refinada, a intuição, é que nos indicam o caminho. A razão pura, sem emoção, é atroz, é dura, já que por definição carece de sentimento e portanto de humanidade. O que ganhei em ser absurdamente racional? Amargura, cinismo, desconfiança e melancolia.

Valeu a pena? Não: estou em outra. Oxalá.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Vôo: Livre

Hoje, 23 de janeiro de 2010, às 14:08 Hora de Brasília, atirei-me de uma montanha (coordenadas 22º59'15.51"S / 43º16'57.16"W) a 696 m acima do nível do mar , sustentado apenas por uma lona de náilon triangular e tubos de alumínio simetricamente dispostos.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Carlos Guto

O Guto é o que gosta de dançar, adora Borges e Fernando Pessoa, e de vez em quando toma uns porres sozinho ouvindo tango. O Carlos é o que sempre procura estar no controle da situação, lê "The Economist", é seco e equilibrado. O Guto é de esquerda, libertário; o Carlos é meio de direita e acha que temos de cumprir o nosso papel social. O Guto é romântico e sofre por amor; o Carlos jurou que nunca vai casar de novo. O Guto gosta de literatura e cinema e está ensaiando escrever, é muito curioso e carinhoso; passa férias no interior do Goiás com a família e tem uma prima meio hiponga que mora em Brasília. O Carlos é sério e compenetrado, e virou gerente; passa férias na Europa e tem uma prima empresária que mora na Barra da Tijuca. O Guto gosta de punk rock, salsa e reggae; o Carlos ouve jazz e música clássica.