Faz pouco tempo uma amiga me disse que eu era uma pessoa de muita sorte. Não havia nem uma semana que eu tinha perdido o emprego e ainda por cima cheio de dívidas, e por isso supus que ela estava de gozação com minha cara desempregada. Perguntei de algum fato concreto que a corroborasse, e ela não soube me responder, argumentando que era somente uma intuição. Também não insisti.
Mas como sempre acontece comigo, alma obsessiva e dada à reflexão, fiquei com aquilo na cabeça, renitente. Até perceber que eu, também intuitivamente, concordava com ela.
Isto porque veio a mim que nos últimos tempos, a cada pancada na cabeça que a vida me dá, eu agradeço e em seguida na minha consciência surge um “que cara de sorte eu sou”. Parece mecanismo de fuga, mas não é isso, já que sempre fui lúcido. E não é por que eu acho que poderia ser pior, e que ao invés de só perder o emprego eu ainda poderia ter sido humilhado, ou que além de ter me decepcionado eu poderia ter sido traído. Então não é complexo de Poliana, tampouco.
Não, não é nada disso. Mas então o que é?
Mais uma vez, divagar sobre o significado das palavras me deu a resposta que buscava. Ontem de tarde, fazendo supermercado, o pensamento me surgiu, límpido: em francês se diz “bonne chance” quando se deseja boa sorte para alguém! Bingo: ter sorte é ter chances; e claro que toda chance é uma oportunidade! Matei: sorte = chance = oportunidade!
Resolvido o substantivo, fui excitado em busca do verbo: compreendi que no meu caso não é “ter”, mas “haver”. Pois não é que eu “tenha” sorte, um acordo tácito que fiz com o universo para ele me ajudar; na verdade “há” hoje algo dentro de mim, uma peculiar faculdade, que me faz encarar as vicissitudes como desafios a vencer e não problemas a sofrer.
E isto torna minha vida imensamente divertida de usufruir, já que adoro colocar para trabalhar os meus recursos intelectuais e emocionais para tirar o melhor das situações ruins nas quais sou metido (ou me meto).
Diz o ditado que “para mal jogador, até a bola atrapalha”. Para mim, que gosto de me acreditar um bom jogador, agora toda bola dividida é chance de gol.
E como vai a produção do livro?
ResponderExcluirBonne chance
´ssa minina, tá parado, por falta de leitores...
ResponderExcluirEngano seu, ma chère, os leitores é que estão sentindo a falta do livro! Em tempo, eu estava sentindo a falta dos textos no blog...
ResponderExcluir;)