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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

domingo, 11 de julho de 2010

John Byng de Portsmouth


É uma das muitas tradições inglesas a de se colocar em bancos estas placas com nomes de pessoas falecidas. Intrigou-me a falta de um estado civil ou ocupação, comum nas outras placas. Quem teria mandado colocá-la? Fiquei pensando em quem teria deixado como lembrança eterna o fato de ser este um homem bom e gentil. Certamente uma mulher. Mas exatamente quem? Por que?

Comecei a imaginar quem teria sido John Byng.

Vejo-o como um homem muito sério e reservado, um pouco calvo, dono de uma lojinha em Arundel Street e casado com uma certa Evelyn, uma inglesa bonita e voluptuosa (raras mas existem; e Catherine Zeta-Jones é do País de Gales!). Ela é bem mais jovem do que ele e imagino que  em pouco tempo de casada logo se entendia da loja durante a semana e dos sorvetes de baunilha no parque de diversões cafoníssimo de Clarence Pier aos sábados. Para dar mais emoção à sua vida, Evelyn começa a conhecer marinheiros que aportavam na cidade e dentre eles o segundo imediato do ferry boat que liga Bilbao a Portsmouth. Depois de alguns meses de affair, foge com ele para a Espanha.

Quem apóia John Byng é Jane, uma sweetheart de adolescência que é apaixonada secretamente por ele desde então. Ela é bibliotecária, sempre vestida discreta, um pouco gordinha e vive sozinha com seus gatos. Eles se encontram frequentemente no Victoria Park e ficam compartilhando sua paixão pela música de Handel e sua admiração pelo teatro de Wilde e de Bernard Shaw. Lá ela algumas vezes pergunta, muito sutilmente, se ele pensa em se casar de novo. John replica sempre com aquela ironia autodepreciativa tão típica dos ingleses (“no momento, o único que posso oferecer a uma mulher são minhas dívidas” ), acompanhada de um comentário mordaz e distante sobre a volubilidade feminina (“e devo admitir que prefiro a companhia delas, pois tudo indica que serão para sempre”). E Jane se recolhe, sempre tímida.

Enquanto isso, o espanhol se cansa do egoísmo visceral de Evelyn, para quem é um direito natural de toda mulher bonita receber tudo e não dar nada em troca. Em uma noite de mais uma briga, ele perde a paciência e a convida a sair de sua vida.

Evelyn regressa à Inglaterra, humilhada. Vai à casa dos pais, onde é mal recebida. Ela então se muda para Southampton, a alguns quilômetros dali, e sua vida no outro porto é preenchida por marinheiros e uísque. Numa noite de profunda embriaguez, no meio das brumas da névoa salgada e do álcool, a lembrança dos sábados em Clarence Pier a enchem de ternura e nostalgia, e não acha mais aquilo tudo cafona. Finalmente amadurecida, ela realiza que está pronta para retribuir o afeto de seu marido. E chora, de lágrimas verdadeiras, mas já é tarde demais...

Uma tarde John não aparece no parque. Jane se alarma e vai à loja dele, onde pela janela o vê caído no chão, com a mão sobre o coração. Infarto.

Depois do enterro, Jane então manda colocar esta placa no banco onde passaram tantas horas felizes, único sinal da paixão pelo homem que mais amou na vida.

3 comentários:

  1. MEtade dessa historia é verdad.. vivida em um outro porto ... em um outro bar ...

    Show de bola...

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  2. Senhoras e senhores, lhe apresento meu irmão Carlos Augusto, poeta! Adorei!!!

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