Sempre achei que as referências culturais e afetivas distorciam a percepção da realidade, e que deveríamos ter um olhar puro e imaculado sobre o que víamos. Por isso, pensava que falsearíamos a realidade quando, por exemplo, a olhássemos através de uma câmera fotográfica.
Agora vejo que a realidade totalmente objetiva é inapreensível, já que inexistente. E ela não existe porque o olhar é filtrado pelos sentimentos que são associados ou despertados pelo que vemos. O olho é sempre engajado, e é melhor que seja pelas lentes da estética e da emoção.
Ter uma multiplicidade de referências estéticas complexas permite ver o mundo com uma riqueza e um refinamento que ele talvez nem possua concretamente. Este olhar educado apreende com mais profundidade as diversas harmonias que existem entre as coisas, muitas aparentemente banais. E se você sempre busca ao seu redor elementos fotografáveis, esta percepção matizada torna o simples ato de “ver o mundo” algo muito prazeroso e estimulante. Olhar o mundo através de uma lente agora já não falseia a realidade, mas a enriquece, elabora, purifica e aperfeiçoa.
A arte consiste em recriar o mundo, e não em imitá-lo. E a fotografia nos induz ao engano com muita facilidade, pois finge documentar a realidade, mas a composição de luz, ângulo, cores e planos na verdade a recria. A fotografia aparenta ser um retrato da realidade quando é técnica e abstração: uma arte que finge ser apenas reprodução.
Perfeito! É assim que sinto e percebo a fotografia...é isso que ela é para mim, o espaço que tenho para criar e recriar a realidade a minha volta.
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