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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O conhecimento holístico

O pensamento racionalista ocidental baseado na objetividade radical já mostrou sua incapacidade de explicar o mundo de maneira satisfatória. Dos grandes pensadores, Nietszche e Freud foram os primeiros a dar o grito. Os anos 60, que nos legaram o ambientalismo e o gosto pelas religiões orientais, foi o grito das massas (pelo menos das esclarecidas).

Agora a busca do Absoluto passa pelo holismo e pela apreensão do todo. Pela síntese da interligação de todos os fenômenos, e não pela análise (“quebra em partes”, em grego) do método científico. Pois por muito tempo confundiu-se a eficácia técnica das ciências exatas com poder explicativo de todas as coisas. Porém, este poder foi desmoralizado pelo princípio de Heisenberg, pelo reconhecimento da natureza dual (partícula e onda) da luz e pelo caráter probabilístico da mecânica quântica (Deus joga dados, sim, apesar do que bradou a frustração de Einstein).

Mas até agora o pensamento ocidental foi incapaz de apresentar uma filosofia que defina esta síntese. Algumas tentativas têm sido feitas, como a Teoria de Gaia, ou a noética versão século XX. Mas elas têm sido infrutíferas, principalmente porque padecem de um mal fundamental: a aspiração da respeitabilidade. Esta exige que estas tentativas se submetam aos cânones ainda predominantes do pensamento científico. É uma contradição insolúvel, com a noética, por exemplo, tentando uma conceituação única de “consciência”; ou Jung e sua Sincronicidade, tentando tornar científico a “interligação de todas as coisas” com estudos estatísticos de adivinhação de cartas à distância. Parece-me que se fica tentando teorizar o inapreensível e conceituar o inconceituável.

Pois a apreensão do Todo é tarefa impossível com os sentidos que temos e os conceitos que somos capazes de criar. As religiões mais sofisticadas têm um corpus estruturado com milênios de decantação que buscam transmitir o transcendente e o “más allá” da consciência humana. O budismo, que conheço pouco, e o hinduísmo, que já li algo, parecem oferecer textos que ajudam a esta compreensão do todo. Alguns textos hindus têm uma tal quantidade de superlativos, hipérboles e repetições ad nauseam que criam uma impressão estética de complexidade, paradoxo e vastidão tão imensamente enormes de grande que transmitem a sensação de como o cosmos deve ser mesmo: tão intricadamente desmedido que se torna absurdo à mera conceituação humana.

Mas são impressões, sensações e percepções mentais, não teorias ou arranjos filosóficos estruturados. Daí minha certeza ultimamente que da ciência mesmo não vai sair nada mais de interessante, além de sua própria contestação. Vale mais a pena se dedicar a entender a apreensão da realidade total como nos propõem as religiões orientais. E para quem não tem muito gosto para deuses, moral absoluta e rituais, sempre podemos acrescentar a estética e principalmente a literatura. E é claro, o exercício do paradoxo.

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