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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

domingo, 29 de agosto de 2010

Querer ter Poder

Um dos meus alemães preferidos era um homem obcecado com a questão do poder. Nietzsche achava que todo fenômeno natural, social ou humano era motivado pela vontade de potência. De átomos a planetas. De células a seres humanos (ler Schopenhauer demais deve ter feito mal a ele, como certamente fez a mim). Mas pessoas as quais respeito me ajuizam que ele está certo e é isso o que move o ser humano, se não as moléculas. Sei lá.

Admito que na maior parte da minha vida o poder foi um assunto que evitei. Fui ensinado e depois me convenci que todas as suas formas são nocivas, pois reconheço a irredutível responsabilidade de cada um por seus próprios atos, e interferir nesta responsabilidade me parece desrespeito à dignidade. Sempre me furtei, cuidadosamente, a manipular qualquer pessoa, pois isto é tirar a sua humanidade, é torná-la objeto. Vivia e vivo me ferrando solenemente com esta atitude, como por exemplo quando minha primeira paixão de adolescência (a segunda foi ano passado) ficou indecisa entre eu e um amigo. 14 anos, eu tinha. Deixei-a escolher, mas o André não partilhava destas sutilezas morais, e talvez ela tenha interpretado minha inação como desinteresse, quando era respeito. Bem, ele ficou com ela, se divertiram horrores e eu fiquei com cara de panaca. Mas um panaca convicto, claro.

Meus amores sempre foram baseados na igualdade. Com 17 minha única contribuição a um livro coletivo da turma foi: “o amor é uma guerra em que não há vencidos nem vencedores”. Todas minhas parceiras entenderam minha proposta e me consumiram com gosto, pois homem que não trata mulher como objeto é artigo valorizado. A única que não captou de primeira foi uma namorada que acreditava que num casal um dos dois é o que manda, e este alguém era ela. Infelizmente para nossa relação, da mesma forma que eu não gosto de mandar, também não gosto de ser mandado. Depois de muita conversa, a fiz perceber que igualdade e negociação são muito mais enriquecedoras que cadeia de comando e ela, mandona porém inteligente, rendeu-se aos meus argumentos. Mas não sem antes termos tido grandiosíssimos quebra-paus e arranca-rabos.

Muitos anos depois, a questão do poder tornou-se inescapável: virei gerente. Eu estava desempregado havia nove meses, e nessas horas se pega o que aparece. Depois de dois anos me adaptando a um papel para o qual não tinha nem vocação nem talento, descobri algo terrificante: eu gosto de ter poder. Me dá prazer influenciar o comportamento das pessoas.

Mas não me interessa o poder de influenciar as pessoas contra a sua vontade. Gosto de fazer com que as pessoas queiram minha companhia por sentir prazer ao meu lado; gosto de ter o poder de contribuir, fazer crescer, desenvolver, despertar. Um poder baseado na negociação, na persuasão e no exemplo ético, e que seja criador, estimulador, energizante. Já o poder baseado na recusa e na intimidação, que é o poder perverso, é estéril e mesquinho, pois fundamentado em sentimentos negativos de medo e temor, na rejeição do desejo, da liberdade e da dignidade. O poder positivo é o que permite a dotação de sentido, o prazer, a troca emocional, o desenvolvimento das habilidades e o respeito à pessoa, como sujeito e ser humano. É este poder que eu gosto de exercer, seja no trabalho, seja no amor.

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